Acima de tudo ser

Este texto tem como objetivo esclarecer-me e, simultaneamente, a si, que vai criando o hábito de ler as minhas palavras, o que muito agradeço.

A inspiração para estas linhas surgiu após ter deparado com uma publicação no Instagram que falava sobre Loki, a nova série do Disney+.

Apaixonada pelo universo Marvel e mitologia nórdica (leitora das obras de Neil Gaiman), pesquisei a fundo sobre esta novidade e devido aos comentários no website Inverse e C7nema, que afirmavam a Marvel oficializar este seu Loki como sendo do género não-binário/género fluido, aproximando-o da versão original presente na banda desenhada, acabei entrando num novo mundo desconhecido: o universo LGBTQIA+.

Por coincidência, nessa mesma semana fui almoçar com a minha filha mais nova (cinco anos), e, quando estávamos a sair do restaurante, a Inês perguntou se a pessoa que nos atendeu era menino ou menina. Não soube responder.

Este texto tem como objetivo esclarecer-me e, simultaneamente, a si, que vai criando o hábito de ler as minhas palavras, o que muito agradeço. Escrever sem ser lido é como ter um candeeiro na mesa-de-cabeceira que não dá luz.

O movimento LGBTQIA+, que nasceu com a sigla GLS, é um movimento político e social de inclusão de pessoas de diversas orientações sexuais e identidades de género.

Ao longo dos anos, o movimento passou por transformações e passou a incluir pessoas não heterossexuais e não cisgénero (relativo a ou que tem uma identidade de género idêntica ao sexo que foi atribuído à nascença, por oposição a transgénero, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa), por isso, foram incluídas novas letras com significados específicos. Vamos conhecê-las uma por uma?

«L» para Lésbicas: mulheres que sentem atração afetiva/sexual pelo mesmo género.

«G» para Gays: homens que sentem atração afetiva/sexual pelo mesmo género.

«B» para Bissexuais: homens e mulheres que sentem atração afetiva/sexual pelos géneros masculino e feminino. As pessoas que sentem atração física/sexual por todos os géneros identificam-se como pansexuais.

«T» para Transexuais ou Transgéneros: pessoas que se identificam com outro género que não aquele atribuído no nascimento, inclusive dentro do espectro não-binário (pessoas que não se identificam nem com o género feminino nem com o masculino).

«Q» para Queer: pessoas com o género «Queer» são aquelas (como é o caso das drag queens), que transitam entre os géneros feminino e masculino ou em outro(s) género(s) no(s) qual(s) o binarismo não se aplica. O termo faz referência à teoria «Queer» que afirma que orientação sexual e identidade de género não são resultado da funcionalidade biológica, mas de uma construção social.

«I» para Intersexo: a pessoa intersexo está entre o feminino e o masculino. As suas combinações biológicas e desenvolvimento corporal — cromossomas, órgãos genitais, hormonas, etc. — não se enquadram na norma binária (masculino ou feminino).

«A» para Assexual: assexuais não sentem atração afetiva/sexual por outras pessoas, independente do género. Existem diferentes níveis de assexualidade e é comum que estas pessoas não considerem as relações sexuais humanas como prioridade.

«+»: O «+» é utilizado para incluir outros grupos e variações de orientação sexual e género que existam.

Na publicação do Instagram referida no início, que espoletou esta minha reflexão, era enaltecido o facto de, pela primeira vez, uma personagem assumidamente não-binária (ou de género fluido) ser protagonista duma série da Disney, algo interpretado como uma tentativa de inclusão; Loki e a sua habilidade de se transformar noutras pessoas, em animais e numa versão masculina e feminina de si mesmo.

Enquanto personagem da mitologia nórdica Loki é assim desde sempre: um deus bonito, adorável, convincente, ardiloso, indefinido — não seria possível apresentá-lo legitimamente de outra forma. Tal como em 1984, Prince nos versos iniciais da música I Would Die 4 U dizia «Não sou mulher, não sou homem, sou algo que você nunca vai entender.». O que dizer dos «dois-espíritos», nativos americanos que desempenhavam um dos muitos papéis de género mistos tradicionalmente encontrados em muitas tribos indígenas nativas que incluíam vestir roupas e executar o trabalho de ambos os géneros, masculino e feminino?

Diante de tanta diversidade, não há regras universais. Muitas destas questões ultrapassam o plano sexual ou afetivo. Ultrapassam até o nosso entendimento humano, mas o princípio básico é muito simples: aceitar e acima de tudo, respeitar o Ser único que todos somos. Se não souber como se referir a alguém, pergunte. Tão simples e honesto quanto isso.

 

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Este artigo foi originalmente publicado no Megafone do Público no dia 30 de junho de 2021

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Analita Alves dos Santos

Inspiro escritores a sentir mais confiança na sua escrita, a evitar a procrastinação e a partilhar as suas histórias com o mundo.

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