Vícios de linguagem

Escrever bem não é apenas dominar a gramática ou escolher palavras bonitas. É, sobretudo, saber usá-las com intenção e clareza. Há, no entanto, pequenos deslizes, como hábitos enraizados no dia a dia, que estão sempre presentes na escrita e a tornam menos precisa, fluída e clara. A isto denominam-se: os chamados vícios de linguagem.

Muitos deles passam despercebidos: repetições, construções desnecessárias, expressões que soam mal ou que desviam o leitor do essencial.

Alguns destes fenómenos, como o neologismo e, por vezes, o plebeísmo, não são necessariamente erros, podendo ser usados de forma intencional em literatura, publicidade ou oralidade, desde que haja consciência estilística.

 1. Ambiguidade – Frase com duplo sentido.
Exemplo: Vi o homem com o telescópio. (Não se sabe quem tinha o telescópio.)

2. Arcaísmo – Palavra ou expressão em desuso.
Exemplo: Pasmado fico ao ver tal façanha. («Pasmado» já é de uso restrito e literário.)

3. Barbarismo – Erro na forma, escrita ou pronúncia da palavra.
Exemplo: Ele interviu na reunião. (O correto é «interveio».)

4. Cacoépia – Erro na pronúncia.
Exemplo: Almóndega em vez de almôndega.

5. Cacofonia – Som desagradável ou ridículo na junção de palavras.
Exemplo: Ela ama-me muito. (Soa como «amame», pouco eufónico.)

6. Cacografia – Erro na escrita.
Exemplo: Excessão em vez de exceção.

7. Colisão – Encontro difícil de consoantes.
Exemplo: Os ratos estão todos dentro. (Difícil de articular: «tostão-to…»)

8. Eco – Repetição de sons ou terminações iguais.
Exemplo: O vento lento levou o teto.

9. Estrangeirismo – Uso desnecessário de palavras estrangeiras.
Exemplo: Fiz um upload do ficheiro. (Poderia dizer-se «carreguei o ficheiro».)

10. Gerundismo – Uso abusivo do gerúndio (Frequente no Algarve, Alentejo e na Madeira).
Exemplo: Vou estar enviando-lhe o documento. (Melhor: Enviarei o documento.)

11. Hiato – Choque de vogais consecutivas que prejudicam a fluidez.
Exemplo: Ou eu ou ela decido. (Frase de som duro e pouco harmonioso.)

12. Neologismo – Criação de palavras novas. (Nem sempre é vício; pode ser recurso literário.)
Exemplo: O dia amanheceu azul-marinhento.

13. Obscuridade – Falta de clareza ou sentido.
Exemplo: A transcendência da leveza opaca da mente humana. (Frase confusa e sem lógica clara.)

14. Plebeísmo – Uso de expressões excessivamente coloquiais.
Exemplo: Fixe, bué da bom este texto! (Não adequado em contexto formal.)

15. Preciosismo – Uso artificial ou rebuscado de palavras difíceis.
Exemplo: A pujança do orvalho matinal exacerbava o fulgor das pétalas. (Demasiado afetado.)

16. Pleonasmo vicioso – Repetição desnecessária de ideias.
Exemplo: Subir para cima, entrar para dentro, voltar atrás.

17. Solecismo – Erro de sintaxe (concordância, regência, colocação).
Exemplo: Faltou muitos alunos. (Correto: Faltaram muitos alunos.)

No meu livro Erros de Português nunca mais, tal como nos diferentes conteúdos que partilho nas redes sociais, encontra outras ferramentas essenciais para uma escrita mais clara e sem erros.

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Analita Alves dos Santos

Inspiro escritores a sentir mais confiança na sua escrita, a evitar a procrastinação e a partilhar as suas histórias com o mundo.

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