Investigar antes de escrever não é uma etapa acessória: é um ato de responsabilidade e rigor. Quer se trate de um romance histórico, de uma biografia romanceada, de um ensaio literário ou de um livro de não-ficção, a investigação tem como finalidade ampliar o conhecimento, sustentar o imaginário e criar uma base fidedigna sobre a qual a narrativa ou argumentação se pode desenvolver com profundidade.
PORQUÊ INVESTIGAR?
- Para criar um universo verosímil, mesmo na ficção.
- Para evitar imprecisões factuais, anacronismos ou lapsos de representação.
- Para enriquecer a linguagem, os contextos e as personagens.
- Para desenvolver autoridade sobre o tema tratado.
- Para respeitar as experiências e as vozes de grupos ou realidades que não sejam próximas do autor.
O QUE INVESTIGAR?
Dependerá do tipo de livro que se pretende escrever. Eis algumas possibilidades:
- Contextos históricos (datas, eventos, mentalidades).
- Práticas sociais ou culturais (ritos, hábitos, expressões idiomáticas).
- Espaços geográficos ou arquitetónicos.
- Jargões profissionais ou científicos.
- Biografias, cartas, diários, registos documentais.
- Entrevistas e testemunhos.
- Artigos científicos ou de imprensa.
- Obras literárias ou críticas relacionadas com o tema.
ONDE INVESTIGAR?
- Arquivos e bibliotecas públicas ou universitárias.
- Repositórios digitais (Europeana, Hemeroteca Digital, Google Scholar, etc.).
- Museus, centros de documentação e acervos pessoais.
- Publicações académicas e livros de especialidade.
- Entrevistas presenciais, por telefone ou por correio eletrónico.
- Visitas de campo aos locais em estudo.
DICAS PRÁTICAS PARA ORGANIZAR A INVESTIGAÇÃO
- Começar com uma pergunta: O que é necessário saber para escrever com propriedade sobre o tema?
- Definir um método: As informações serão recolhidas, resumidas, transcritas ou gravadas?
- Criar pastas temáticas: Em formato digital ou físico, com fontes, notas e referências.
- Manter registo das fontes: Para citações, confirmações futuras ou eventual bibliografia.
- Estabelecer limites: A investigação não deve substituir o ato de escrita.
CUIDADOS A TER
- Verificar a credibilidade das fontes.
- Evitar copiar ou parafrasear sem atribuir o devido crédito.
- Ter cautela com o excesso de informação: pode travar o desenvolvimento da narrativa.
- Respeitar os contextos e as vozes alheias: mesmo na ficção, nem tudo é permitido.
INVESTIGAÇÃO COMO ESTÍMULO CRIATIVO
A investigação pode e, deve, ser também uma forma de alimentar a criatividade. Por vezes, um dado inesperado, uma fotografia antiga, uma entrada de diário esquecida podem dar origem a um conto, um capítulo ou uma voz narrativa.
CONSIDERAÇÃO FINAL
Escrever é também investigar. Investigar é um ato de escuta, de curiosidade ativa e de cuidado com o mundo que se pretende recriar. Não basta imaginar: é necessário saber. É desse saber que nasce uma escrita mais rica, mais sólida, mais comprometida com o real, mesmo quando dele se parte para o transcender.




