O BOM FASCISTA É… Tendo como mote o livro «Manual do Bom Fascita» de Rui Zink, o desafio foi partindo da observação da realidade atual criar um texto satírico humorístico dentro desta temática tão séria.
Ali mesmo, na taberna, templo do conhecimento popular. Escolhe o homem mais franzino, que costuma fazer-se acompanhar pela mulher.
Chama-o à parte.
Informa-o de que o vinho que lhes serviram é traçado. Diz, também, que é melhor que a mulher deixe de o acompanhar, pois é seu dever protegê-la destas incúrias. Ela que se entretenha em casa, que fale pouco e que leia ainda menos. As mulheres são péssimas influências e os livros são ainda piores do que as mulheres.
Um segundo franzino é chamado para comprovar a má qualidade do vinho que ambos bebem. Aos matulões é que servem vinho de garrafa, explica-lhes. Eles que acreditem na sua palavra, homem engravatado jamais mentiria, garante-lhes.
A mulher do primeiro franzino aproxima-se. O bom fascista, sorridente, incentiva-o a aplicar o que aprendeu: sabes o que tens a fazer.
O franzino manda-a para casa. Ela, empertigada, pergunta: para casa fazer o quê? O pobrezinho detém-se o inquire o bom fascista com o olhar. Este responde por ele: vá apanhar a roupa. Ela, surpreendida, arregala os olhos. A mulher do segundo franzino intervém, em defesa da primeira.
Com regozijo, o bom fascista afaga os ombros dos dois e sussurra-lhes: péssimas influências umas para as outras… e já sabem… livros, então, é para acabar.
Observa-os, enquanto acaba o seu copo de aguardente velha. Uma satisfação vê-los seguir e, cada um em seu canto, transmitir a sabedoria aos restantes franzinos.
Amanhã voltará. Irá instruí-los sobre os lambões dos deficientes que recebem subsídios para não fazer nada à conta dos impostos dos que trabalham.
Levanta-se e sai. Leva as pontas dos dedos à frente do nariz e faz um esgar de náusea. Precisa de um banho de água de malvas. Este cheiro a proletariado perturba-lhe o descanso.
Laura Santos
- abril 2024