O BOM FASCISTA É… Tendo como mote o livro «Manual do Bom Fascita» de Rui Zink, o desafio foi partindo da observação da realidade atual criar um texto satírico humorístico dentro desta temática tão séria.
Aprova os poetas, desde que saibam o seu lugar.
Como em tudo na vida, à vontade não é à vontadinha.
Um poeta não pode ser qualquer um. Íamos, agora, ter comuns gatos-pingados a escrever poesia, não? Há que impor a ordem também nas letras.
A poesia é uma coisa séria. Coisa para gente grande. Então não tivemos poetas importantes, no “tempo da outra senhora”, como diz esta canalha? Olhem o Camões. Escreveu uns versos tão porreiros sobre a pátria e sem se rebelar contra o regime do Senhor Professor. A ver se não vendeu uma data de livrinhos. Ninguém percebe o que lá está escrito, mas foi o regime que o ajudou e até lhe deu uma pensãozita.
Portanto, o bom fascista até gosta de poetas.
Se não forem mulheres, armadas ao pingarelho, a falarem de sexo, que isto, agora, é ver umas serigaitas por aí a quererem escrever coisas eróticas, como elas dizem. Lambisgoias a porem-se a jeito, a pedi-las. Antigamente, estavam matriculadas, agora escrevem poesia.
Também não podem ser esses larilas, que, agora, se chamam homos e trans e binários e têm p’ra lá uma sigla. Um L qualquer coisa. Uma cambada de maricas a quererem aparecer e ter os mesmos direitos da gente normal.
Por cá, poetas, só portugueses, que também andam aí uns brasileiros, uns árabes e uns pretos que deviam ir p’ra terra deles. Os pretos que joguem futebol, que chega muito bem e os brasileiros que façam telenovelas. Dos árabes é fugir com quantos pés se tenha.
O bom fascista gosta do bom poeta. Aquele que conhece o seu lugar, que glorifica a Pátria, Deus e a Família, que o respeitinho é muito lindo e isto da poesia é só para gente grande.
Ana Paula Campos
- abril 2024