O BOM FASCISTA É… Tendo como mote o livro «Manual do Bom Fascita» de Rui Zink, o desafio foi partindo da observação da realidade atual criar um texto satírico humorístico dentro desta temática tão séria.
Procura-se um bom fascista para uma relação radical.
Apetece-me viver uma experiência diferente, algo por mim não antes experimentado, a ver quanto aguento. Há quem caminhe sobre pedras quentes, há quem mergulhe no gelo, cada um arrisca-se a queimar-se como bem entende.
Não quero um fascista qualquer, um fascista falsificado, quero um by the book, que é como quem diz, um fascista à séria, para uma experiência 100% realista.
Que seja um homem… hein? Por que não há de ser uma mulher? Boa pergunta, sendo eu mulher, em sexo e em género, se estou a imaginar uma experiência matrimonial em contexto de bom fascismo, prevejo que o sistema a vigorar seja homem-mulher, Adão e Eva, pelo menos à luz do dia e dos olhos alheios, nas trevas da noite e adentro de portas, logo se verá o que pode acontecer.
Retomando o meu anúncio…
Que seja um homem de ideias ultrapassadas, nada como um retrocesso para melhor sentir e compreender o que uns impunham e o que outros suportavam e o que sonhavam conquistar, homens e mulheres de outros tempos.
Prometo que, sob as asas deste bom fascista, serei uma dócil criatura, esposa caseira, rezadeira, trabalhadeira, limpadeira, lavadeira, engomadeira, arrumadeira, cozinheira, biscoiteira, costureira, bordadeira, crocheteira, jardineira, parideira… e é nesta altura que este cenário me provoca coceira ou tremedeira, estou indecisa, porque é de facto uma baboseira ou uma asneira, nem sei bem o que diga, ainda a experiência não começou e já estou um pouco a sentir-me sem eira nem beira.
Afinal, vou caminhar em pedras quentes ou mergulhar no gelo.
Ana Candeias
- abril 2024