Mariana,
maga materna, molda mimosos meninos,
em voos vazios, corre em vestes de vento,
não há tempo para o leite.
O relógio, canta a urgência da vida,
confiados à vizinha, que à escola os há de levar,
nas asas do amanhecer,
sonhos desabrocham, prontos a voar.
Mariana,
febril, ruma ao barco apressada,
o relógio, feito mar revolto, a espera,
não há tempo para olhar o espelho.
Escritórios são mares a limpar, às oito, as portas abrem,
e o sol adormecido,
entre nuvens de papel, danças raras a segredar.
Mariana,
navegadora do destino incerto,
na porta da escola, os sorrisos são gaivotas,
os abraços, portos seguros de cansaço,
não há tempo para amar.
Em silêncio, tece amores nas dobras do tempo,
resiliente, ecoa a melodia do vento, em versos a entoar.
Mariana,
retorna ao lar, num oceano de cansaço,
desperta o marido ainda adormecido,
um sapato voa como andorinha na alvorada,
não há tempo para fugir.
Um rio de sangue desliza pelas rugas da tristeza:
— Não chorem, meninos, é só o pai a brincar!
Mariana, mulher, poesia serena da vida.
Maria Bruno Esteves
- fevereiro 2024