Corações Apagados

Corações Apagados

O correio apenas chegava ao quartel uma vez por semana. Para proteger o saco de lona grossa e verde, era exigido que fosse escoltado por viatura militar com seis mancebos armados, afastando assim o perigo de assalto inimigo, em busca de segredos e estratégias bélicas.

Do cimo das escadas desgastadas pelas subidas e descidas de enlameadas botas, o cabo amanuense grita para a multidão, ansiosa por ouvir o seu nome:

—Soldado Santos!

O nomeado fura a turba impaciente. Agarra a pequena carta azul-bebé, dobrada em envelope. Acha estranho não ver corações vermelhos desenhados nas abas laterais e frontais. Um pressentimento ruim aperta-lhe o peito, enquanto se senta debaixo do alpendre escuro e triste da caserna. Lê lentamente uma frase, seca e apunhalante:

—Manel, não aguento esperar mais dezoito meses. Conheci outro homem.

O Santos corre dali à cantina, para beber a primeira das milhares de cervejas que se seguiriam.

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José Mendes

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