Vidas. Caminhos. Encontros e desencontros. Procuro-me, procuro-te. Sinto o vazio do teu abraço. Existo, sim. Mas nós dois podemos ser um. Um em cumplicidade. Do meu peito ecoam sons que só tu conheces. Escutas ou não? Recordas-te?
Nem te via porque o mundo te tapava. Ora eu voava, ora tu. Ora eu ficava, ora tu. O tempo jamais parou. Nem para mim, nem para ti e nem, mesmo, para ninguém. Morria e renascia. E não te encontrava. E tu? Renascias e morrias sem me esperares.
Tempo! Tempo que não para. Vida que é eterna.
Na minha loucura, tropecei. Talvez tenha tropeçado em ti e passei sempre. Talvez não. Estarias em todo o lado? O que nos faltou? Onde a pupila dos teus olhos? Só olhar é pouco. Espreitar a alma. Mergulhar.
Fui cobra que rastejou em penas. Fui caranguejo que a correr para trás fugia. E tu? Galopaste, eu sei. Não sei.
Foste rio em que eu me banhei. Foste vento por onde voei. Alma penada. Caída e levantada.
Quem perdia quem?
Sinto-me inquieta. Procuro-te. Sei que me procuras também. Ouço o teu eco. O som dos teus passos. Dizem que há almas gémeas. Se as há, andam descompassadamente desencontradas. Foi ao virar da esquina. O teu cheiro.
O teu toque. Nem o corpo novo que trazias deixava-me confusa. Eras tu. De certeza. Toca-me. Repara que ao teu peso eu serei sempre o contrapeso. Sou eu. És tu. A minha metade. A tua metade.
Manuela Vieira
- Fevereiro 2023