Como todas as histórias de amor que deixam marcas para toda a vida, a minha história de amor com os contos começou na adolescência.
Descobri este género literário ao mesmo tempo que me apaixonei perdidamente pelos livros. Todos os dias, agradeço por este duplo amor eterno. Agradeço à bibliotecária da minha cidade, que perante a questão «Qual o escritor que me sugere? Com histórias diferentes, surpreendentes», apresentou-me Edgar Allan Poe. Foi assim, que aos treze anos, descobri este poeta, escritor, crítico literário e criador de um novo género e estilo na literatura. «O Gato Preto», escrito em 1843, continua a ser uma referência de leitura obrigatória para quem deseja mergulhar no universo dos contos.
Com «Os crimes da Rua Morgue» e o seu Monsieur C. Auguste Dupin — o primeiro detetive da história da literatura — Edgar Allan Poe lançou os pilares dos contos policiais, influenciando gerações de autores de livros de terror e de suspense.
Depois de Edgar Allan Poe, imergi no mundo literário de Machado de Assis. Quem ainda não descobriu este autor brasileiro (génio criativo comparável ao nosso Camilo Castelo Branco), proponho o conto «O Alienista», leitura recomendada pelo Plano Nacional de Leitura.
Depois, Sophia de Mello Breyner Andresen, Virgílio Ferreira, Gabriel García Márquez. Tantos outros contistas terão incendiado esta paixão. Estes são somente nomes que mais facilmente me surgem à memória.
Recentemente, seguindo outras recomendações (é bom deixarmo-nos surpreender pelas sugestões literárias dos outros…), entrei nas histórias inesperadas, inusitadas, murro no estômago de Julio Cortázar. Com Jorge Luis Borges, aprendi a admirar a prosa de ideias, da imaginação sem floreados rebuscados ou excessiva adjetivação, uma prosa preenchida pela economia de palavras e subtileza da inteligência do escritor. Em Clarice Lispector reconheço estranheza nas palavras e nas emoções invocadas, mas continuo a surpreender-me com cada novo conto que leio.
Quando escuto no mundo editorial português vozes convictas afirmarem, «os portugueses não gostam de contos», julgo tratar-se de um mero mal-entendido. Os portugueses não leem mais contos, porque desconhecem a magia deste género literário tão propício a quem tem pouco tempo disponível para ler. Falta mais divulgação deste género literário.
Os contos são narrativas curtas, com tantos temas, perspetivas, personagens inesperadas, mundos surpreendentes nos quais entramos, devoramos cada palavra até à última página e rapidamente, terminamos. Depois, queremos mais. Muito mais.
Há contistas para todos os gostos e todas as idades. Agora estou a reler Anton Tchékhov, a seguir, vou ler Carlos Ruiz Zafón, e depois, Lydia Davis. Também Florbela Espanca, Agustina Bessa-Luís, Eça de Queirós escreveram contos. Encontrará certamente, um contista de seu agrado.
O conto é um género literário com tremenda flexibilidade. Por vezes, próximo da crónica, outras, quase poético. Histórias aparentemente simples, mas de complexidade oculta que exigem ao escritor grande maestria para prender o leitor, obrigando-o a desejar conhecer o final da história, tudo, num só fôlego.
Fica o desafio: leia um conto por dia. Se for um leitor mais fervoroso, intercale a leitura do conto com as páginas do seu romance ou livro técnico do mês. É essa a minha prática diária.
Porque, um conto por dia…
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