Neste artigo decidi falar-lhe sobre o poder das palavras na sua vida.
Parece-lhe um tema estranho? Claro que não. Decerto, já ouviu falar de Programação Neurolinguística ou do mantra Ho’oponopono e como os nossos pensamentos e emoções podem ser orientados, com base na escolha de determinadas palavras para alcançar o máximo impacto positivo na nossa existência.
Não vou detalhar nenhuma destas matérias, pois estão longe da minha área de atuação, mas posso garantir-lhe: as palavras que escolhe no seu dia a dia, quando fala ou escreve, influenciam positiva ou negativamente a sua vida profissional e pessoal.
Precisamos de aprender a adaptar o discurso ao nosso interlocutor. Sempre. De nada serve utilizar as palavras mais recônditas do dicionário — essa prosápia — só para massajar o ego e perceber no final, que a sua mensagem acabou por não passar como devia.
Não quero dizer com isso que o caminho seja a simplificação da linguagem. Falo somente na importante adequação do discurso à sua plateia. Uma professora de ensino básico explica Português aos seus alunos, com uma abordagem diferente de uma professora do ensino secundário, certo?
Pretende que o seu leitor fique meditabundo perante os seus textos? E o que dizer dos erros ortográficos? Esses «opróbrios indeléveis» partilhados nas redes sociais com toda a leviandade!
Mofinamente há quem continue a não acertar com o «h» ou o «à e prefira a «aderência», em detrimento da adesão à pratica de uma linguagem mais cuidada.
Li recentemente um texto bastante interessante que falava sobre como o empobrecimento da linguagem pode ser uma das causas para a diminuição, nos últimos vinte anos do QI médio, nos países mais desenvolvidos.
A redução do vocabulário utilizado e o desaparecimento gradual dos tempos verbais leva-nos a uma incapacidade de refletir e de pensar.
Ainda há poucos dias, escrevi sobre as palavras «estada» e «estadia» e de como a primeira raramente surge, o que não significa apenas uma pobreza estética lexical, mas também o deixarmos de pensar que a «estadia» de um barco num porto de cruzeiros é diferente de uma «estada» confortável num hotel de cinco estrelas.
É a perda destas subtilezas da linguagem que nos faz ficar empobrecidos. Como afirma Christophe Clavé «Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento. Estudos têm mostrado que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de descrever as emoções em palavras.»
Quais são os segredos para evitar este «emburrecimento» coletivo?
O primeiro é ler. Ler muito. Todos os dias, diversos géneros literários. Cada livro que lemos engradece-nos. Se reparar, na escrita deste artigo fiz questão de introduzir algumas palavras (que talvez o obriguem a ir propositadamente ao dicionário!), resultantes da minha última leitura, «A Queda Dum Anjo», de Camilo Castelo Branco. É este o efeito positivo dos livros — permitem-nos sonhar, crescer e aprender.
O outro dos grandes segredos é escrever, escrever muito, de preferência à mão.
Escrever à mão ensina-lhe bastante sobre o poder das palavras, a manter o foco no essencial. Sem acesso a corretores automáticos, o esforço intelectual é superior e apesar de ser um processo mais lento, favorece a interpretação e a escolha certa das palavras. Todos escrevemos no nosso dia a dia e utilizar as palavras com mais impacto e clareza é fundamental.
Escreva mais e procure aprender cada vez mais sobre a arte da escrita, quer seja por motivos profissionais, terapêuticos ou para efeitos de criação literária.
E lembre-se sempre…
«É a escrever mal que se aprende a escrever bem.»
– Samuel Johnson
Se este tema lhe interessa, inscreva-se no «Minicurso Semana da Escrita», de 19 a 23 de abril, online e gratuito https://oprazerdaescrita.com/minicurso-semana-da-escrita-3/