Este artigo é mais uma prova viva de como há livros e séries televisivas que nos marcam e nos acompanham durante anos e anos, se não, toda uma vida.
Tenho mais de quarenta anos e ainda me recordo da emoção aterradora de folhear «O Perfume», de Patrick Süskind ou de me perder no imaginário do «Admirável Mundo Novo», de Aldous Huxley. Mais longe nas minhas memórias estão ainda bem presentes as recordações de «Uma Casa na Pradaria» ou o «Automan». Lembranças do passado, tão presentes, que ainda me fazem sorrir.
Recentemente, por sugestão de uma amiga descobri uma série televisiva que me fez recordar os momentos áureos do vício do sofá, de não conseguir desligar a televisão sem assistir a um novo episódio, desvendar o que acontecerá a seguir. Falo de «Outlander», uma série que começou em 2014 e que só agora, encontrei. Perdoe-me quem já conhece há mais tempo a história de amor eterno de Jamie e Claire. Para me redimir e pertencer ao clã assisti às cinco temporadas em menos de três semanas.
No entanto, o que há de tão fascinante nesta série que encanta homens e mulheres um pouco por todo o mundo?
Primeiro, importa realçar que esta série é baseada na saga «Outlander», publicada em 26 países, 23 línguas e com 28 milhões de exemplares vendidos, escrita por Diana Gabaldon, uma escritora americana de ascendência mexicana e inglesa, considerada uma excelente contadora de histórias.
O primeiro livro «Nas Asas do Tempo», com mais de 800 páginas, saiu em 1991, por isso, é normal, em 2014, quando a história foi adaptada para televisão, que a legião de fãs da obra começasse a focar as suas atenções no pequeno ecrã.
Partilho consigo a sinopse do primeiro livro.
«Claire leva uma vida dupla. Tem um marido num século e um amante noutro…
Em 1945, Claire Randall, ex-enfermeira do Exército, regressa da guerra e está com o marido numa segunda lua-de-mel quando inocentemente toca num rochedo de um antigo círculo de pedras. De súbito, é transportada para o ano de 1743, para o centro de uma escaramuça entre ingleses e escoceses. Confundida com uma prostituta pelo capitão inglês Black Jack Randall, um antepassado e sósia do seu marido, é a seguir sequestrada pelo poderoso clã MacKenzie. Estes julgam-na espia ou feiticeira, mas com a sua experiência em enfermagem, Claire passa por curandeira e ganha o respeito dos guerreiros. No entanto, como corre perigo de vida a solução é tornar-se membro do clã, casando com o guerreiro Jamie Fraser, que lhe demonstra uma paixão tão avassaladora e um amor tão absoluto que Claire se sente dividida entre a fidelidade e o desejo… e entre dois homens completamente diferentes em duas vidas irreconciliáveis.
Vive-se um período excepcionalmente conturbado nas Terras Altas da Escócia, que culminará com a quase extinção dos clãs na batalha de Culloden, entre ingleses e escoceses. Catapultada para um mundo de intrigas e espiões que pode pôr em risco a sua vida, uma pergunta insistente martela os pensamentos de Claire: O que fazer quando se conhece o futuro?»
Agora, imagine esta história na televisão protagonizada por dois atores cuja química faz morrer de inveja qualquer casal da vida real, diálogos intensos entre personagens, que são pouco ou nada baunilha, intriga, sangue, romance, um história de amor avassaladora, drama, lutas entre homens de kilt, sexo não furtuito, mas de sentimento profundo materializado no toque de dois corpos que dispensam guião, viagens no tempo… Tudo isto, misturado com as paisagens surpreendentes da Escócia e uma banda sonora que faz arrepiar a alma de qualquer mortal. Consegue imaginar?
Este misto de ficção romântica e histórica tira-nos o sono. Faz-nos querer ouvir segredado ao ouvido, palavras sibiladas com a pronúncia das Terras Altas da Escócia.
Jamie Fraiser, interpretado pelo cliché de beleza masculina Sam Heughan (louro colossal musculado quanto baste, de olhos azuis, voz melosa e sorriso de anjo), mostra o Ser Homem em toda a sua verdade: na quase inocência de um amor que resiste ao tempo, na palavra dada, na intensidade das emoções e sentimentos nem sempre positivos, na fúria, na grandiosidade do perdão, da compaixão e paixão — traços de personalidade reveladores de uma tremenda inteligência emocional e empatia. O mesmo acontece com Claire interpretada por Caitriona Balfe. Uma combinação perfeita, um retrato absoluto do amor entre um homem e uma mulher, mais intenso e profundo do que Romeu e Julieta.
Talvez eu tivesse antecedentes muito graves, que jogaram contra mim no jogo — «só posso ver um máximo de dois episódios de “Outlander” por dia!» — que perdi, desde a primeira vez, em que escutei o genérico: sou uma apaixonada pela Escócia, pela sua cultura, sonoridades e uma romântica daquelas que chorou até, com a história de amor da Dama e o Vagabundo, da Disney. Curiosamente, Edimburgo era o meu próximo destino de férias em família, mesmo antes de descobrir o universo romântico e dramático criado por Diana Gabaldon.
A escritora seduziu os seus leitores com as suas obras (o oitavo livro «Escrito com o Sangue do meu Coração – Vol. I» já está à venda em Portugal), o realizador Stephen Woolfenden e os atores Caitriona Balfe, Sam Heughan, Duncan Lacroix, Tobias Menzies, Grant O´Rourke, entre outras fortes presenças, deram-nos o golpe final.
Não há episódio — cada, com a duração aproximada de cinquenta e cinco minutos — em que não surja uma lágrima indiscreta ou um fulgor ardente nos olhos para nos preencher o dia com mais emoção. Possivelmente, todos exigimos vidas mais fogosas, intensas, menos sensabor. De olharmos o outro, ver a sua verdade e aceitá-la.
Experimente pronunciar com genuíno sentir estas palavras provenientes da ficção e, saberá como conquistar um coração:
Quando chegar o dia em que nos separarmos, se a minha última palavra não for “amo-te”, sabes que será porque não tive tempo.
– Jamie Fraser
Quem não gostaria de no tempo de uma vida sentir um amor assim?